quinta-feira, 6 de março de 2008

Dança comigo

Fomos ao Dança Comigo no sábado à noite - eu e as amigas de barriga, junto com a amiga enfermeira. Os pais ficaram em casa com as crianças e nós pusemo-nos a caminho. Umas mais nervosas, outras menos. Incluí-me no segundo grupo, por não ser a 1ª vez, a M. nunca chorar (mesmo) e ter total e plena confiança no pai da minha filha. Depois de uma aventura pelos montes e aldeias do Oeste e de umas quantas voltas às rotundas da região em comboio de 4 carros (demos 5 voltas numa e 4 noutra...), chegámos ao estúdio atrasados. Acabámos por nos sentar separadas para assistir à desgraça da Clara Pinto Correia. Inenarrável. Quem não viu não consegue imaginar a falta, não, a inexistência de noção do que é dançar daquela mulher. Rimo-nos um bom bocado graças à senhora. Como disse a São José Lapa, ainda bem que ela se dedicou à biologia. Quando acaba o programa, toca o meu telemóvel. Era o B. completamente desesperado porque a M. estava aos gritos desde as 9h da noite. Eram 11h30. Enquanto ele falava, eu ouvia-a. Chorava sem apelo nem agravo. Não era fome. Não pegava na chucha. Nem os carros à janela, nem o mobile milagroso a calava. O pai achava que eram os dentes e que aquilo era choro de dor. Foi o que me pareceu. O que senti? Um aperto demasiado grande no meu coração e uma necessidade urgente de me pôr a caminho de casa. Tinha 4 pessoas dependentes da minha boleia. Tudo conversava animadamente com a Catarina Furtado, que nos tinha arranjado os convites, por intermédio da enfermeira. Não queria ser indelicada, mas não fui capaz de disfarçar. A certa altura, tudo me perguntava o que se passava e eu só sabia dizer que a M. estava num berreiro non stop e que ela nunca chora, muito menos com o pai. Viemos embora mais depressa à minha conta. A enfermeira disse ao B. para lhe pôr um Ben-U-Ron e ele acabou por me ligar no regresso a dizer que já estava a adormecer com o biberão de cansaço. Quando cheguei já dormia. Aquele meu desejo desesperado de chegar a casa e pegar nela ao colo e mimar não se satisfez. Dei-lhe um beijinho na testa e deixei o pai deitá-la. Ele aterrou de cansaço. Fiquei eu. Sozinha com a minha culpa. Um verdadeiro disparate. Mas no meio da angústia, do medo e do choro preso na garganta, o que sobressaía dentro de mim era a culpa. Por não estar lá a afagar-lhe a cara, pegar nela ao colo e cantar o Manel, por não lhe dar beijinhos e tentar acalmá-la. Racionalmente sabia que não ia adiantar nada. Ia chorar igual se fosse realmente dor. Mas estava lá a tentar. Difícil de explicar...

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