quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Adormecer

A M. ainda adormece acompanhada. Primeiro, já no quarto, às escuras, tenho de lhe dar "miminhos", afagando-a ao colo, enquanto canto algumas canções infantis reduzidas quase aos refrões. Ela enfia a cara no meu pescoço, esconde o dô-dô entre o meu peito e ela e ali fica a respirar profundamente. Depois, digo-lhe que está na hora de ir para a cama e, após uma pequena negociação, lá vai resignada, com a certeza que eu fico ali. Tenho de ficar no puf até ela adormecer, e por vezes, até tenho de lhe dar a mão ou segurar-lhe nos pés. Isto, após uma ordem concisa que apenas diz no escuro: "mão!". Nunca consigo sair à socapa, até porque ela vai-me dirigindo a palavra e só depois de um bom bocado, quando eu me zango e quando ela já está mesmo quase, quase a adormecer, é que ela se cala de vez. Saio do quarto sem leh mexer pois pode acordar por dá cá aquela palha e depois é um inferno. Quando me vou deitar, entre 1 e 2 horas depois, vou sempre espreitar a filha. Só temos esta janela temporal para lhe mexer e mesmo assim sem grandes sacudidelas. Mudar-lhe a fralda a meio da noite implica acordar, por isso, evitamos. Ponho-a com a cabeça na cabeceira da cama - costuma adormecer ao contrário para me poder ver no puf - e tapo-a. Agora no verão, nem chego a tapá-la, pois ela transpira desalmadamente e ao fim de 5 minutos, se lá for espreitá-la, o lençol já voou... Depois, o ritual é sempre o mesmo: afago-lhe a cabeça e digo-lhe para dormir bem, com os anjinhos e com a avó, para depois dizer uma reza antiga - "Anjo da guarda, minha companhia, guarda a minha alma de noite e de dia". É estranho eu fazer isto, mas sem saber explicar melhor, acho que devo... Mal não faz, por isso... Acabo com um beijo na testa ou onde consigo chegar. É a parte que mais gosto, pois normalmente tenho direito a um suspiro profundo como resposta. Um suspiro que me enche por completo e me rouba inevitavelmente um sorriso. Tem uma boa noite, M.

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