O choro antes de dormir... Inexplicável. Chegada a Lisboa, começou por adormecer embalada no carrinho pelo nosso corredor afora, por iniciativa do pai. Conforme a minha previsão, a certa altura, tal truque deixou de resultar. Tentou-se de tudo - até o colo... Nada, mas nada, a calava, a não ser o cansaço, depois de uma hora, ou mais, ao colo, a berrar. Literalmente, a berrar. Dava guinchos nada normais. Achei que era birra de sono, conjugada com cansaço (não quer dormir de dia), com três semanas de rotina para adormecer e mimo a mais que tinham resultado numa super-manha. Uma noite, como não se calava, nem ao colo, pu-la na cama sentei-me ao lado a falar baixinho. Depois, tentei calar-me. Como também não resultou, sentei-me no chão escondida atrás da cama a ouvi-la a chorar (sou masoquista, sou...). Ao fim de talvez 40 minutos, a chorar com ela, não aguentei mais e peguei nela ao colo. Talvez por se sentir aconchegada depois daquele abandono tão grande, talvez vencida pelo cansaço, adormeceu pouco depois embalada por mim. Nessa noite, sozinha em casa (como não consegue ouvir a filha a chorar, o B. deu boleia à tia para casa e depois passeou por Lisboa, para dar tempo...), estava uma pilha de nervos: primeiro pelo choro dela incontrolado e segundo por ter contrariado a minha própria teoria. Quando o B. chegou, cheguei a dizer-lhe que se ela adormecesse ao colo sem choro desde o início, connosco sentados, desistia das minhas belas teorias e passava a fazer isso, mas ela só nos quer em pé e já pesa muito, quanto mais daqui a uns tempos. Delírios!... Sabia qual era a solução: uns dias a chorar na cama, sem apelo, nem agravo. A minha dúvida porém era outra: como deixar chorar? Comigo ao lado sem falar, com a mão dentro da cama, vir-me embora e deixá-la sozinha? É que se era para chorar, que pelo menos fosse uma solução eficaz - sofrer sem resultados não valia a pena. Falei com a amiga enfermeira para lhe pedir um conselho de mãe. A sugestão foi pô-la na cama, vir embora e deixar chorar, não importa quanto tempo, porque manha é assim que se combate, por mais que nos custe. Calhou a tia S. telefonar nesse mesmo dia e aproveitei uma borla psicológica. Depois de algumas perguntas lógicas - tipo, mudou alguma coisa na rotina, como é o choro, etc... - achou que a enfermeira tinha razão, mas ficou de confirmar com o seu mestre em psicologia infantil. Nessa noite, calhou a M. estar tão cansada que antes de a pôr na cama, tentei embalá-la e a técnica resultou: já ia mais para lá do que para cá quando a deitei e deixou-se ficar sem grandes cinemas, comigo a fazer-lhe massagens nas costas. No dia seguinte, a tia S. confirmou-me a resposta dada no dia anterior. Podia apenas ir ao quarto de x em x tempo tentar acalmá-la sem pegar ao colo, mais por mim, mãe, do que por ela, por forma a não sentir que a estava a abandonar à sua sorte. Se não resultasse, para lhe ligar outra vez. Preparei-me mentalmente para o que aí vinha e avisei o B. para que ele me desse apoio - é que deixar a filha chorar assim não é fácil e sozinha em casa mais ainda...