Li no outro dia num jornal que está provado que as pessoas que não conseguem dizer "amo-te", "preciso de ti" e outras expressões do género, foram modeladas pela sua própria educação. Ou seja, quando em casa não se exterioriza estes sentimentos por palavras, mesmo que as acções o demonstrem sem sombra para dúvidas, as crianças não aprendem e reprimem essa capacidade. Confirmo. A partir dos meus 12 anos, altura em que a minha avó também deixou a nossa casa, deixou de haver qualquer demonstração do que quer que fosse nesse sentido. O meu pai era e é incapaz de ultrapassar essa barreira, que ele próprio construiu com a viuvez, ao ponto de eu ficar impressionada por o ver despedir-se da neta com um beijinho (mesmo que a fugir). Eu, durante anos, não fui capaz de o fazer. Sou pouco meiga ou carinhosa, e só mesmo o meu marido é que teve direito a exteriorizações orais. Nunca fui de fazer festas às amigas e quando choravam tinha uma dificuldade monstruosa em abraçá-las. Esforcei-me por ultrapassar tal entrave, mas estou consciente que não fui muito bem sucedida. Nasceu a filha. Os sentimentos foram progressivos e não imediatos. Não foi logo que eu afirmei "é minha e muito minha e por isso é a mais linda e a melhor do mundo". Ao ler aquela notícia, em introspecção, revi-me no meu pai e assustei-me ao concluir que provocaria o mesmo nela, como que um círculo que se fecha. Fiquei a matutar no assunto uns tempos. Até que me apercebi. Nunca lhe disse "amo-te muito filha", e garanto que já tentei e não saiu, mas... Passo a vida a chamá-la de "meu amor", "minha pipoca", pergunto-lhe vezes sem conta "quem é a coisa boa da mãe?". Enfim, sem dar por ela, a M. conseguiu mais um pequenino milagre, que não me pensei ser capaz. Por isso, encho-me aqui de coragem e deixo escrito num sítio que nem o mar, nem o vento, nem o tempo apagam - Amo-te muito filha, como algo que doi cá dentro sem fim. Amo-te muito meu querido, sempre mais, apesar do que passou e ainda há-de passar. Pronto já disse. Já só falta dizê-lo em voz alta para que hajam testemunhas.
Há 8 anos
2 comentários:
Ai mulher! O bem que a tua filha te faz!!
Eu também tenho essa dificuldade embora cada vez mais suavizada.
A ti já te disse que gosto de ti? Acho que já, mas nunca é demais dizê-lo. Gosto muito de ti minha mana de Lisboa ;)
Les enfants font des miracles. Tu sais dire "je t'aime" mais même si tu ne le dis pas, tu le démontres néanmoins. En tout cas, moi je les ai toujours perçues tes preuves d'amour et d'amitié. A ta fille, dis le lui très régulièrement et répétes le lui encore et encore. Mes parents ne m'ont également jamais dit "je t'aime". Cela m'a tellement manqué, que moi je dis encore et encore à mes enfants. Et tu sais je suis heureuse de le dire aujourd'hui à mon Papa qui est en phase finale de vie par le temps que je lui consacre, la main que je lui tiens à chaque fois que je vais le voir.... Bisous
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