Espanto-me ainda hoje com a data de crendices do antigamente que perduraram, apesar desta nossa sociedade supostamente avançada. Com o crescer da M. vão-me ensinando as correspondentes. É a mãe que não pode pôr o dedo na boca da criança para ver se o dente está a nascer, senão já não cresce. É a criança que não pode passar por entre as nossas pernas porque senão dá azar... E agora a criança não pode ficar "augada" com a comida quando demonstra que quer provar, senão não medra... É... A M. é pouco comilona... Não pode ver nada. Seja o que for, começa a chegar-se, olhando fixamente, como uma ave de rapina pronta para atacar, e a demonstrar com o corpo e a respiração que quer provar. Pão, iogurtes, papa, sopa, fruta e bolachas são um verdadeiro desespero - já conhece, por isso SABE que quer. O resto, é por instinto. Se nós levamos à boca, então deve ser bom, não interessa o quê. Na semana passada foi gelado. Fomos tomar café com a minha tia e tanto ela como eu comemos um Magnum. A M., ao colo do pai, ia balançando violentamente as pernas, enquanto atirava o corpo para a frente e fazia de burrinha velha. De tal maneira, que incomodou. A minha tia escondeu-se atrás do cortinado a comer à pressa o seu gelado e eu, por entre gargalhadas, devorei o meu também. Não teve gracinha nenhuma pois adoro saborear a comida. Gelados então... O pai já não sabia o que fazer mais e foi-se esconder com ela para o corredor, mas... Sempre com a teoria do augar a pairar no ar. Às tantas, já eram os dois a implicar comigo para lhe dar a provar um bocadinho, senão a "menina ainda fica augada"! É... Acabei por ceder, não por isso, mas por achar aquilo uma verdadeira tortura. Encostei o gelado à boca dela e molhei-lhe os lábios - só visto, contado ninguém acredita! Provou com a língua e parecia que os olhos iam saltar das suas órbitas! Abanava-se toda, respirava francamente com força e não largava do seu campo de visão o meu gelado. Provou mais duas vezes e depois engoli-o para acabar com aquilo. Não é que já tenho de comer às escondidas da madame?!
Há 8 anos
Sem comentários:
Enviar um comentário